domingo, 30 de setembro de 2007

Ha uma ilha

Gosto das ondas dos dias. Gosto mais ainda das ondas dos desejos. Gosto do vai e vem do querer e não querer. Gosto da oscilação do vento ora forte ora brisa. Gosto das dúvidas que vão e partem. Gosto de saber que tudo gira tudo muda tudo é tempo. Gosto de saber que o tempo cura e que a cura está já ali à espera. Gosto da viagem até ao mar. Gosto de lhe sentir o marulhar mesmo antes de lá chegar. Gosto de partir. Gosto de ir. Gosto de me fazer à estrada e nada saber.

Só não suporto ficar...

Estou de partida outra vez. Estou de chegada repetida a fins que não percebo a histórias que não sei dizer. Estou de esperanças viradas do avesso. Estou sem norte e sem caminho. Estou numa encruzilhada de um destino que nem sei.

Sou quem não fica e vou estando. Sou quem não quer mas persigo o desejo. Sou quem perde a bússola e deixa o mapa voar. Sou quem nunca sabe quem nunca lembra quem nunca deixa. Sou quem sempre vai de partida. Sou quem sente que ainda não foi agora a hora de ficar. De saber ficar.

Tenho uma ilha à margem de mim. Tenho um arquipélago longo demais a chamar-me há eras demais. Tenho tudo demais e tudo em falta profunda em medo imenso. Tenho esperanças e angústias à solta iguais. Tenho o que vou sendo e perco tudo que se vai esfriando. Tenho o tempo contado e a vida largada num turbilhão parado.

Parar. Tudo que não sei como conseguir.
Parar. Nada do que vou criando encaminha passos para sair deste lugar. Parado.

Há uma ilha aí, algures, nem que seja longe do mar.

(escrito em Agosto e encontrado agora...)

3 comentários:

paulo disse...

Dez meses de dúvida ou é teimosia ou parvoíce. De resto, bem-revinda. Continua um luxo lê-la.

paulo disse...

Passando e relendo; o teu texto é muito, mesmo muito bonito; faz mais, ou descobre mais, e põe mais aqui. Xi, noite africana.

Sr. Jeremias disse...

Há, há muitas ilhas por aí. Assim como há cidades, mas as cidades às vezes tornam-se estranhas ao próprio dono, razões e vizinhos que impedem as pedras da calçada de nascerem onde querem. Há ilhas, há cidades e há estações que nos levam para outro lugar qualquer. E há estações que levam a ilhas.

Mudei-me de uma cidade para um sitio onde vejo comboios a passar. Não deixes de ir. Também podem vir a surgir comboios mágicos;)