segunda-feira, 26 de novembro de 2007

(meu) S. Tome

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– “Senhor Manuel!” – Chamava Olívia, – “Senhor Manuel!” – gritava a petiza como se fosse preciso acordar toda a praia…
– “a menina nasceu!”

Professor Manuel lá estava, nas suas obrigações da manhã, calcorreando as frentes da praia, em busca dos meninos perdidos que não acompanhavam lição por ter de sair na faina, madrugada ainda.
À volta
quase sempre assim encontravam, Professor Manuel, feito pescador de caderno e lápis, feito mestre de navio fantasma de escola…
Era ele um homem jovem, que tinha aportado ali sem se saber ao certo porquê.
Talvez fugido dele mesmo, talvez fugido de não saber quem queria ser, como tinha vivido até ao dia em que a sereia ali dera à costa. Partindo daí

todo ele se fizera novo, todo ele se preparava de feição à manhã.
A sereia grávida que ninguém conhecia… e que o baptizara como nunca antes ouvira.

Esta era apenas mais uma caminhada do sol levantado como as outras todas, o professor ali andava, no seu passo largo pela areia molhada, parando aqui e ali, esclarecendo dúvida dali e mais daqui.

Mas a voz que o chamava levava grito desventuroso contido…
então o professor Manuel correu de um fôlego só e
foi já na porta de casa que alguma mancha de ensombrar sonhos percebeu.

...

2 comentários:

Unknown disse...

Ah Éme, o que escreveste é tão relaxante... acredita. Diz-me pq muitas vezes escondemos os sonhos, diz-me pq muitas vezes sofremos por antecipação, diz-me pq na maioria das vezes e de forma inconsciente temos que agir como São Tomé, e quando realmente precisamos fazer o papel de São Tomé, acabamos por rejeitar tal script?

Unknown disse...

OffTopic: Obrigado pelo brilhante comentário que me deixaste, Éme. Mesmo muito obrigado. Depois de alguma reflexão, já lá deixei uma resposta para ti!

:)